domingo, 8 de novembro de 2009

Bolha Especulativa no Brasil ?

Li um artigo no Portal RPC neste domingo e fiquei com algumas dúvidas na minha cabeça.

Me parece que, para alguns "gurus" das finanças, publicar artigos em veículos de informação pública que visem jogar um balde de água morna no apetite dos investidores com alguma intenção política pré-estabelecida é praxe.

A seguir, transcrevo ipsis literis o artigo lido:

Há risco de bolha especulativa no Brasil, dizem economistas

07/11/2009 | 14:21 | Agência Estado


O IIF (Institute for International Finance ), espécie de Febraban (Federação Brasileira de Bancos) mundial, afirma que "há uma conjunção de fatores preocupantes no Brasil" que podem indicar a formação de uma bolha. A expansão de crédito ficou em 30% no ano passado, neste ano caiu para 12% - apesar da queda, ainda está em dois dígitos.

O País está recebendo grandes volumes de fluxos de capital - em outubro, o segundo maior da história. O mercado acionário está em alta e o real bate recordes - foi a moeda que mais se valorizou, cerca de 34% neste ano. "Todos esses fatores combinados representam um risco de bolha de ativos", disse Hung Tran, diretor da área de mercado de capitais e mercados emergentes do IIF. "Essa excessiva valorização de ativos e moeda terá de ser corrigida mais cedo ou mais tarde, o que não vai ser fácil."

A economia brasileira é vítima do próprio sucesso, dizem os economistas. Com um crescimento expressivo e sistema financeiro saudável, o Brasil vem recebendo muitos investimentos. Mas o Brasil também é refém do ambiente externo: as economias avançadas ainda estão se recuperando, e devem manter as taxas de juros baixas por muito tempo, como sinalizou o Fed (o banco central americano) nesta semana.

Com juros baixos e dólar em queda, emergentes como o Brasil se tornam principal alvo para o chamado carry-trade. Os investidores tomam emprestado nos EUA, com juros baixos e dólar em queda, e aplicam em tudo quanto é ativo considerado mais arriscado, inclusive no Brasil. O economista Nouriel Roubini alertou para a volta do carry-trade, que anteriormente era feito com o iene, em uma coluna recente no jornal Financial Times. "Os preços dos ativos arriscados subiram demais, muito cedo e muito rapidamente em comparação com os fundamentos macroeconômicos", escreveu Roubini.

Para Arvind Subramanian, economista do Peterson Institute for International Economics, tanto China como Índia e Brasil são grandes alvos de investimento porque as economias estão em franca recuperação e oferecem bom retorno. "Mas a China controla o câmbio e a Índia tem grandes restrições a capital (como limites em investimentos em títulos domésticos), então o Brasil, que tem maior liberdade, fica mais vulnerável", diz Subramanian.

Na tentativa de lidar com essa enxurrada de capital, o Brasil adotou IOF de 2% sobre investimentos estrangeiros em renda fixa e variável.

Apesar da medida, outubro foi o mês com segundo maior fluxo cambial da história. O Ministério da Fazenda estuda algumas modificações no imposto: isentar IPOs, lançamentos iniciais de ações, aumentar a alíquota do IOF e taxar outros tipos de operações.

"O governo precisa usar um arsenal de medidas para lidar com isso, não adianta só taxar a entrada de capitais", diz Tran. "Precisam apertar a política fiscal para tirar pressão da política monetária."

Para Subramanian, o Brasil terá de adotar medidas com maior "convicção", não se restringindo a um IOF tímido sobre os fluxos de capital. "Mas não existe uma receita pronta, é muito difícil lidar com excesso de entrada de capital", disse o economista. "Em última instância, precisamos esperar a recuperação nos países desenvolvidos", disse Subramanian, que escreveu com John Williamson um artigo no Financial Times, há uma semana, defendendo a imposição de impostos sobre capital no Brasil e criticando a postura conservadora do Fundo Monetário Internacional (FMI) a respeito do tema.

O maior foco de preocupação para essa bolha ainda é a Ásia, onde já há inflação significativa nos preços dos mercados imobiliário, acionário e de crédito doméstico. Na semana passada, o Banco Mundial afirmou que a enxurrada de capital no leste da Ásia - aplicados em bolsa e mercado imobiliário na China, Hong Kong, Vietnã e Cingapura - "levam a uma preocupação sobre a formação de bolhas nos preços dos ativos". Apesar de estar em situação menos aguda, o Brasil começa a chamar atenção.

"No Brasil, a combinação de sintomas mostram que as autoridades precisam abordar esse problema", diz Tran. Mas de certa maneira, o Brasil está refém da situação externa, que não deve mudar tão cedo. Até que termine o processo de "desendividamento" de suas economias, os países desenvolvidos terão de manter as condições benignas - juros baixíssimos - que, combinado ao dólar em queda, são o combustível dos carry-trades e da potencial bolha.

"Controle de capital apenas ameniza a pressão e a volatilidade, mas não é forte o suficiente para reverter a tendência; além disso, os 2% são muito baixos em comparação com os retornos de investir no Brasil", disse Bertrand Delgado, economista sênior no Roubini Global Economics.

"Será preciso esperar o dólar se valorizar e haver uma elevação nos Treasuries, o que não deve ocorrer antes da metade do ano que vem." Segundo a previsão da Roubini Global Economics, a liquidez só vai se reduzir no final do ano que vem ou início de 2011. Seis meses antes, os mercados vão começar a precificar isso, e os juros vão subir, diz Delgado.

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Meus Comentários ou Considerações



Primeiramente que quando falamos de risco podemos associar a probabilidade de ocorrência de n possíveis eventos de natureza desconhecida e complexa, ainda mais quando tratamos de uma ciência social como a Economia.

Em segundo, é interessante notar que para estes economistas uma conjunção de fatores como a taxa de expansão de crédito desacelerada, grande volume de fluxos de capital, recuperação da Bolsa de São Paulo e real em alta (hoje em torno de 1,72 R$/US$) representem um risco de bolha de ativos.

Num artigo muito bem escrito pelo meu ex-professor de macroeconomia na ufpr e meu orientador de monografia de graduação, Marcelo Curado, são verificadas as limitações na teoria das bolhas especulativas racionais na explicação da flutuação dos preços dos ativos financeiros.

"A literatura de bolhas especulativas racionais, ainda que justifique do ponto de vista da construção convencional a ocorrência de flutuações nos preços dos ativos, apresenta pelos menos duas limitações importantes.

Em primeiro lugar, essa literatura não apresenta um conjunto de explicações econômicas para as flutuações nos preços dos ativos. A bolha é uma possibilidade matemática, uma possível solução de uma equação diferencial, sem maiores preocupações com os fenômenos econômicos que geram esse processo.

A segunda limitação diz respeito à questão da recorrência verificada empiricamente nos processos de flutuações nos preços dos ativos. A teoria busca explicar um fenômeno recorrente, comum ao funcionamento do mercado, como fruto de fenômenos exógenos ao seu funcionamento. As bolhas racionais fazem sentido na explicação de fenômenos pontuais e isolados. Para que os modelos de bolhas racionais pudessem explicar o surgimento de flutuações sistemáticas nos entanto, se isso ocorrer, os agentes não podem ser considerados racionais, o que contradiz a teoria."


De acordo com Curado (2006) autores de inspiração heterodoxa como Minsky, Kindleberger e o próprio defunto John Maynard Keynes, centram-se na explicação do fenômeno a partir do comportamento normal dos agentes em mercados financeiros marcados pela incerteza. Em última instância, os processos de flutuações nos preços dos ativos surgem de ondas de otimismo/pessimismo derivadas do comportamento normal dos agentes no mercado, o que limita a capacidade de explicar e prever do analista econômico.

Em síntese, estes autores de inspiração keynesiana se distanciam da explicação convencional de que as bolhas surgem aleatoriamente e, portanto, de forma exógena ao funcionamento do sistema econômico.


O professor Marcelo finaliza com um parágrafo muito claro e objetivo...

"A capacidade de interpretar a flutuação nos preços dos ativos como derivada do comportamento normal dos mercados, ou seja, de tornar essa flutuação endógena e recorrente e, portanto, mais adequada às evidências empíricas disponíveis, leva este trabalho a concluir que a interpretação de inspiração keynesiana – em particular a pós-keynesiana – se constitui num referencial teórico mais adequado ao estudo do tema, sobretudo quando comparada com a literatura de bolhas especulativas racionais."

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