sábado, 28 de novembro de 2009

Tecnologia

Quero reportar aqui um link interessante para uma demonstração de uma tecnologia extremamente interessante.


Tenho interesse em cursar doutorado em Tecnologia & Desenvolvimento, pois contempla um dos grandes desafios da Ciência Econômica em tentar "simular" os comportamentos de uma sociedade e fluxos financeiros quando surge uma inovação ou um avanço tecnológico significativo que seja capaz que reduzir custos, aumentar produtividade e a produção, desajustar taxas de desemprego, minimizar erros, otimizar uso de recursos, etc.

*Veja meu artigo sobre inovação e tecnologia na Ciência Econômica aqui.


sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Black & Scholes

Este link é interessante pois mostra o desenvolvimento formal do modelo de precificação de opções de Black & Scholes (por mais que saibamos q não exista precificação de acordo com Minsky).

Algumas críticas bem fundamentadas podem ser vistas aqui .

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A Evolução Acabou ?

A evolução? Acabou

Para o inglês Steve Jones, a lógica de Darwin não se aplica mais aos seres humanos e chegamos ao ponto mais alto da genética

por Eduardo Szklarz
Você já deve ter se perguntado como seremos no futuro. Nosso cérebro vai crescer? O apêndice vai sumir? Teremos uma vida melhor? O cientista britânico Steve Jones dá uma dica: deixe de lado as especulações e se olhe no espelho. Você verá a imagem da humanidade em pleno auge. É isso mesmo: finalmente chegamos ao nosso limite biológico. “A evolução acabou”, diz ele. “As coisas simplesmente pararam de melhorar ou piorar para a nossa espécie. Se você está preocupado sobre como será a utopia, relaxe. Já está vivendo nela.” Segundo Jones, o Homo sapiens sapiens praticamente pulou fora da arena da seleção natural e não vai mais sofrer mudanças drásticas. Graças ao nosso estilo de vida, conseguimos sobreviver e nos reproduzir sem depender das diferenças herdadas para enfrentar o frio, a fome e as doenças. Mesmo as pessoas que morrem por essas causas costumam estar velhas demais para que a máquina de Charles Darwin se interesse por elas. No entanto, ele avisa que a evolução não tirou férias no mundo inteiro. Na África e em locais muito vulneráveis a epidemias, ela continua funcionando a todo vapor. Steve Jones é chefe do Departamento de Genética da University College em Londres e conversou com a SUPER por telefone.
Por que a evolução acabou?
Primeiro precisamos entender o que é evolução. Charles Darwin a definiu em 3 palavras: “descendência com modificação”. Descendência se refere à informação passada de uma geração à outra. E modificação significa que essa informação não é perfeita. Se isso acontecer em muitas gerações, as diferenças vão se consolidar e a evolução vai acontecer. Assim, parte da evolução é um acúmulo de erros durante longos períodos de tempo. Mas Darwin tinha uma segunda idéia sobre evolução: a seleção natural, que influi nas diferenças herdadas na capacidade de se reproduzir. Se você possui um gene que torna maiores as suas chances de sobreviver, encontrar um parceiro e ter filhos – em comparação com os que não possuem esse gene –, ele se tornará mais comum, vai se espalhar entre a população e, com o tempo, novas formas de vida vão aparecer. Portanto, a seleção natural tem a ver com diferenças herdadas e com a capacidade de copiar genes. Nos últimos séculos, porém, essas diferenças se reduziram drasticamente entre os humanos – daí a evolução ter parado ou ficado mais lenta.
De que maneira essas diferenças se reduziram?
Nos dois principais quesitos que a evolução exige: sobrevivência e reprodução. Na época de Shakespeare [século 17], 2 em cada 3 pessoas morriam na Inglaterra antes de chegar aos 21 anos. Muitas delas morriam porque tinham genes que as tornavam mais suscetíveis a certas doenças. Hoje, 99 em 100 chegam aos 21 anos. Isso se deve aos avanços na saúde pública e na medicina, entre outros fatores, mas o importante é que todas sobrevivem. Mas sobreviver não basta: para que a evolução aconteça, as pessoas também precisam encontrar um parceiro e se reproduzir. Quanto mais filhos tiverem, melhor. As mulheres são limitadas nesse quesito, mas os homens não. Toda vez que um homem faz sexo, ele produz esperma suficiente para fertilizar todas as mulheres da Europa, por exemplo. E é também nesse quesito que houve uma mudança drástica em relação ao passado: já não há tanta diferença no número de filhos que cada pessoa tem como antigamente.
Por que isso é importante?
Se todo mundo tivesse 16 filhos, não haveria seleção natural. E, se todos tivessem um filho, tampouco haveria seleção natural. Ela só pode existir se algumas pessoas tiverem 16 filhos e outras tiverem nenhum. Ou seja, se essa diferença for grande. Mohammed Bin Laden, pai de Osama, teve 22 mulheres e 53 filhos. Ora, se um homem tem 22 mulheres, outros 21 homens não terão nenhuma. Assim, na sociedade de Mohammed Bin Laden houve uma enorme diferença no número de filhos das pessoas: algumas tiveram muitos, outras poucos, outras nenhum. Mas casos assim são cada vez mais raros, salvo em regiões como o Oriente Médio. Em geral, poucas pessoas não têm filhos, algumas têm 1, outras 2, pouquíssimas têm 5. Praticamente nenhuma tem 22! Portanto, já não há mais diferenças na sobrevivência nem no sucesso reprodutivo das pessoas. Com isso, não há matéria-prima para evolução.
Mas não existe a possibilidade de mutações genéticas devido à radiação, por exemplo?
A mutação é uma parte secundária do meu argumento, mas é real. Ninguém nega que a radiação e os químicos fazem isso, mas os efeitos são muito pequenos. A principal fonte de mutações não são os reatores nucleares, e sim os homens que os constroem. Isso ficou evidente após a 2ª Guerra Mundial, quando os americanos mandaram uma equipe de geneticistas a Hiroshima para analisar as pessoas expostas à bomba nuclear. Anos depois, eles retornaram esperando encontrar muitos erros genéticos – mutações – nos filhos das pessoas expostas à bomba. Mas encontraram apenas 28 mutações. Dessas, 25 vinham do pai, não da mãe. Foi a pista de que a principal causa de mutação está no homem, não na mulher.
Por quê?
As mulheres produzem os seus óvulos antes de nascer. Isso significa que há apenas 24 divisões celulares entre o óvulo que fez a mulher e o óvulo que ela libera. Já os homens produzem esperma o tempo todo, inclusive agora ao ler esta revista. Em um homem de 28 anos [idade média de reprodução na Europa], ocorrem cerca de 300 divisões entre o esperma que fez esse homem e o que ele passa adiante. E em cada divisão dessas existe chance de mutação. Por isso, há mais mutações em homens do que em mulheres. E há muito mais mutações nos homens que têm filhos em idade avançada. Em um pai de 65 anos, ocorrem 2 mil divisões entre o esperma que o fez e o esperma que ele passa adiante. E também nesse ponto houve uma enorme mudança: antigamente, os homens continuavam tendo filhos enquanto podiam. Hoje, ocorre o contrário. Começamos a ter filhos mais tarde, mas paramos mais cedo. A maioria das pessoas deixa de ter filhos aos 30 e tantos anos. Resultado: como o número de pais mais velhos diminuiu, o número de mutações também diminuiu.
De que forma a globalização influi na mudança?
O isolamento é outro ingrediente da evolução. Populações isoladas tendem a se diferenciar umas das outras. No entanto, hoje a população mundial é densa e em constante movimento. Não precisamos mais casar com o rapaz ou a garota da porta ao lado. Podemos pegar um avião e encontrar nosso par a quilômetros de distância. As pessoas fazem sexo com gente de qualquer lugar do mundo, e com isso o planeta está se tornando um único continente genético.
Para alguns de seus críticos, essa mistura genética é a própria evolução acontecendo agora.
Em certa medida, isso de fato é evolução. Mas não é o tipo de evolução na qual as pessoas geralmente pensam – em que uma população evolui para se adaptar às condições climáticas de lugares diferentes, por exemplo. Foi esse tipo de evolução que levou à existência de pessoas negras na África e brancas na Europa. Isso nunca mais vai acontecer, porque as pessoas estão se movendo muito de um lugar a outro. Esse movimento não leva a diferenças, ao contrário, estamos todos cada vez mais parecidos.
Quer dizer que não há mais diferenças entre fracos e fortes? Todo mundo é apto?
Bem, todos morrem no final. O importante é que, embora muitos morram por motivos relacionados aos genes – como diabetes e câncer –, eles morrem quando já estão velhos. Se você morre depois de ter filhos, isso é totalmente irrelevante para a evolução.
O fim da evolução significa o fim da eugenia, a idéia de que é possível melhorar uma raça?
Depende do que você quer dizer com eugenia. O termo significa “ser bem-nascido”. Coisas terríveis foram feitas em nome do movimento eugenista, que começou exatamente aqui em meu departamento [Francis Galton, que dá nome ao laboratório de Steve Jones, foi quem inventou a palavra “eugenia”]. Milhares de pessoas morreram em campos de concentração em nome dessa idéia, e não nego isso nem por um instante. Hoje, no entanto, quando você pode escolher entre ter um bebê que sofrerá muito com uma doença severa – e morrerá cedo – e outro que será uma criança feliz, creio que vai escolher o segundo. Isso é eugenia, é “nascer bem”. E também não posso negar esse fato.
Parar de evoluir é algo ruim?
As palavras “bom” e “ruim” não significam nada para a ciência. O que podemos dizer é que a evolução acabou no mundo industrializado, e por enquanto. Acredito que na América do Sul as condições que descrevi sejam similares às da Europa, mas na África é diferente: lá ainda existe mortalidade maciça em função de problemas como o HIV. Além disso, pode ser que a evolução volte a operar no mundo dentro de 20 ou 100 anos. Digamos que uma epidemia mate milhões de pessoas. Algumas terão genes para resistir a ela, outras não. Estas últimas vão morrer, as primeiras vão sobreviver – e a evolução vai começar de novo. Ou seja, essa etapa com certeza não é para sempre. Mas espero que seja por muito tempo.
Temos de nos adaptar ao mundo ou o mundo a nós?
Em certa medida, tivemos que nos adaptar ao mundo. Somos apenas mais um animal. Mas agora o mundo precisa se adaptar a nós. Se você olhar ao redor do globo, verá que na verdade todos vivem nos trópicos. Mesmo no Alasca ou na Sibéria, as pessoas usam roupas quentes e calefação. Nós levamos nosso ambiente aonde vamos, e assim o mundo tem que se adaptar a nós. Mas não creio que ele esteja fazendo isso muito bem. O aquecimento global é um sinal disso e, se a situação piorar, teremos que nos adaptar ao mundo de novo. Descobriremos que nossa capacidade de fazer o mundo trabalhar para nós depende muito de nossa capacidade de trabalhar para ele.

O ser humano, essa obra-prima

Mudanças sociais e avanços na saúde pública estão nos protegendo da evolução, pelo menos por enquanto. Entenda os principais argumentos de Steve Jones
A SELEÇÃO NATURAL
No passado, os humanos dependiam de diferenças herdadas para suportar frio, fome e doenças. Isso mudou. Antes algumas pessoas tinham muitos filhos e outras não tinham nenhum. Hoje, todo mundo tem mais ou menos o mesmo número de filhos. Assim, quase todos passam pelas provas de sobrevivência e reprodução da mesma maneira.
PAIS JOVENS
Hoje os homens começam a ter filhos tarde, mas param cedo. Essa mudança repercute na genética: num pai de 28 anos, ocorrem cerca de 300 divisões no esperma; já num pai de 50 ocorrem mais de 1 000 divisões. E, cada vez que ocorre uma divisão celular, existe a possibilidade de uma mutação. Em pais mais novos, as chances de mutação diminuem.
POPULAÇÕES MISTURADAS
Séculos atrás, as pessoas permaneciam a vida toda perto do lugar onde nasciam. Hoje, ninguém precisa casar ou fazer sexo apenas com quem mora ao lado. A população humana está em constante movimento. Assim, grupos pequenos e isolados são cada vez mais raros . O mundo está se transformando num único continente genético.

Steve Jones

• Tem 64 anos e nasceu no País de Gales.
• É um dos maiores especialistas do mundo em caracóis. Para analisar as diferenças nas conchas, ele coletou centenas de milhares de espécimes na Europa.
• Recebe todo dia e-mails indignados com sua teoria sobre o fim da evolução. Ele costuma ler, mas dá de ombros: “Em geral, são bastante chatos”.
• Quando não trabalha no laboratório, gosta de ir para sua casa na França e escrever livros.
• Não tem comida nem música favorita. “Meu hobby é fazer ciência”, afirma.

Fonte: Revista SuperInteressante

Anabolizantes para o Cérebro!

Cérebro turbinado

Estica, puxa, conserta: a tendência de refazer o corpo, propagada graças à glamourização das cirurgias plásticas, chega agora a um órgão escondido, mas tão sujeito à vaidade quanto pernas, narizes e barrigas. A última palavra em aperfeiçoamento humano são as smart drugs (drogas inteligentes), desenvolvidas para tornar a inteligência um dom, digamos, mais democrático - e fazer do cérebro uma supermáquina, literalmente.

Não são apenas substâncias químicas que podem realizar milagres; uma técnica chamada de estimulação magnética transcraniana, que utiliza ímãs para aumentar ou diminuir a atividade em dadas regiões cerebrais, oferece grandes promessas para pacientes de depressão severa e várias outras desordens mentais - mas provou, em experimentos, ser capaz de acelerar a habilidade de resolver problemas lógicos em voluntários saudáveis.

Tais fortificantes cognitivos poderão ser tão comuns como o café dentro de 20 anos, sugerem experts do Foresight, grupo de pesquisadores que, com incentivo da Fundação Nacional de Ciência dos EUA, reuniu-se para discutir os caminhos dessa ciência emergente. As conclusões do encontro dão o que pensar. O painel, constituído por neurocientistas, profissionais de bioética, psicólogos e educadores, foi unânime em afirmar que a era da reforma cerebral já está aí - e as conseqüências disso são ainda bastante imprevisíveis. Nas últimas duas décadas, os cientistas fizeram importantes descobertas sobre quais regiões do cérebro realizam determinadas funções e de que maneira essas áreas interagem para absorver, armazenar e resgatar informações. Pesquisadores também começaram a compreender melhor como e onde nascem os neurotransmissores e quais deles são responsáveis por tarefas mentais específicas. O resultado foi que o campo de atuação se expandiu, e o cérebro começou a ser explorado com mais profundidade.
utilização de substâncias para turbinar a atenção ou outras capacidades cognitivas não é novidade. O café, por exemplo, trabalha dessa forma. A diferença é que as smart drugs oferecem uma versão mais concentrada e mais poderosa dessas armas químicas.

A Ritalina, comumente prescrita para crianças que sofrem de DDA (distúrbio de déficit de atenção), já é usada por estudantes para melhorar seu desempenho. "Não há estudos que comprovem a eficácia do medicamento para outras finalidades", adverte a Novartis, fabricante do medicamento, em e-mail a Galileu.

O Modafinil, voltado para tratar desordens do sono, como a narcolepsia, tem sido empregado para ajudar as pessoas a se lembrarem de números mais eficientemente. Existe ainda um tipo de molécula chamada ampaquina, que aperfeiçoa o trabalho de certos receptores químicos no cérebro, indicando o caminho para futuros medicamentos que possam melhorar a memória de pessoas cansadas.

"Todos esses exemplos foram desenvolvidos para fins terapêuticos", diz James Wilsdon, filósofo da Universidade Oxford que dirige o departamento de ciência e inovação do think tank britânico Demos. "O Modafinil começou a ser explorado pelos militares. Com ele, era possível ficar acordado por até 72 horas com poucos efeitos colaterais. Agora, a droga é usada para melhorar a performance no trabalho."

Motoristas de caminhão e pilotos de aviões há muito utilizam as anfetaminas para evitar a sonolência; universitários vão atrás de cápsulas de cafeína para manterem-se acordados a noite toda. Mas esses estimulantes fornecem efeito temporário e sua atuação é brusca e ampla - eles turbinam o cérebro mexendo com todo o sistema nervoso. As novas drogas, diferentemente, são potencialmente a chave para uma acuidade mental mais direcionada e com melhorias duradouras. Nos Estados Unidos, suplementos nutricionais com a suposta capacidade de melhorar a memória já movimentam um mercado anual de US$ 1 bilhão. E não se sabe ao certo se eles funcionam. As smart drugs, ao contrário, são comprovadamente potentes. E é justamente aí que reside a preocupação. "São substâncias poderosas. Como os esteróides no caso dos atletas, essas drogas não deveriam ser vistas com leveza, como a cafeína", diz Steven Rose, professor de biologia da Open University, no Reino Unido.

Alguns pesquisadores acreditam que o desenvolvimento de drogas de aperfeiçoamento cerebral cada vez mais eficientes vão inaugurar uma era de "neurologia cosmética". Para os experts do Foresight, contudo, essa é uma área muito mais delicada que a adoção de cirurgias plásticas para melhorar a aparência ou o uso de esteróides para aprimorar o desempenho físico - porque mexe com a nossa qualidade humana básica.

Algumas drogas e novas tecnologias, além disso, só melhoraram o desempenho mental dentro da situação controlada de um laboratório; a realidade, porém, pode ser muito diferente. Além disso, as substâncias não têm o mesmo efeito em todas as pessoas. O efeito colateral que a maioria dos cientistas teme não é físico, e sim mental. Uma droga para melhorar a memória pode fazer com que a pessoa se lembre de muitos detalhes, "entupindo" o cérebro. Da mesma forma, um medicamento para aguçar a atenção pode levar o usuário a ficar concentrado em uma tarefa específica, sem reagir a outros estímulos. Quem nota e retém tudo o que vê acaba não compreendendo coisa alguma.

Há, ainda, o risco do vício. Não há evidências que apontem para uma possível dependência física, mas certamente psicológica. Em resumo, as smart drugs mudam a maneira como pensamos. E, com isso, mudam aquilo que somos. A disponibilidade dessas drogas abre um vasto campo para questões éticas e sociais, incluindo-se aí a preocupação com as conseqüências de um mundo em que algumas pessoas poderão ganhar vantagem sobre outras. Ou, ao contrário, que o seu uso diminua a lacuna entre as pessoas inteligentes e as não tão espertas, criando uma homogeneização da capacidade cognitiva humana. "Vamos ter de aprender a fazer parte de um ambiente em que nossos pensamentos, emoções e comportamentos são continuamente modificados por novos agentes farmacêuticos", diz o neurocientista Steven Rose.

Segundo o neurocientista Iván Izquierdo, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, as drogas para memória em estudo têm revelado efeitos somente nas amnésias benignas mais intensas de pessoas muito idosas e nos pacientes com Alzheimer leve ou inicial. Ele explica que o estudo sueco de 1997 com ampaquinas (veja quadro à esquerda) não foi reproduzido. "Nenhuma droga foi descrita, de maneira confiável, como útil para melhorar a memória de pessoas normais. Pessoas saudáveis normalmente utilizam seus sistemas mnemônicos sempre ao máximo de sua capacidade disponível. As interferências que podem sofrer são devidas a estresse, ansiedade ou depressão, que se tratam independentemente dos sistemas de memória", conclui Izquierdo.

A monitoração dessas substâncias é outro problema. Os cientistas afirmam que, em breve, teremos de começar a pensar quais dessas drogas seriam aceitáveis em um ambiente escolar. Até testes antidoping, como aqueles a que atletas estão sujeitos em competições, são cogitados. Mas Michael Gazzaniga, diretor do centro de neurociência cognitiva da Universidade Dartmouth, não tem grandes esperanças sobre esse controle. "Já é difícil o bastante realizar esses exames com atletas. Não consigo ver isso funcionando com a população em geral. É muito difícil projetar testes para identificar drogas tão modernas quanto essas", diz o psicólogo. Além disso, afirma Gazzaniga, banir drogas nunca funciona. "É praticamente impossível proibir eficientemente drogas que podem ser compradas pela internet. O melhor a fazer é tentar regular seu uso", opina.

Quase todas as grandes companhias farmacêuticas pesquisam medicamentos capazes de melhorar a memória, alguns já em estágios avançados de testes. Ao mesmo tempo, diversas empresas estão desenvolvendo drogas para apagar memórias indesejadas, como lembranças e eventos traumáticos, para ajudar pacientes com depressão. Ninguém confirma que essas indústrias tenham a intenção de criar smart drugs, mas a idéia de que elas possam ser usadas de maneira alternativa também deve ser considerada.

Hoje, estão em estudo inúmeras drogas que ajudarão pessoas normais a lidar melhor com uma grande variedade de desafios mentais, inclusive suas emoções. Militares estão testando drogas para diminuir o medo, por exemplo, fazendo do combate uma questão puramente cerebral. Mas alguns cientistas estão céticos: um soldado tão avançado, tão destemido, pode ser também muito mais vulnerável ao perigo.

Mas, afinal, vamos nos tornar mais inteligentes? James Wilsdon afirma que sim, pelo menos temporariamente. Testes de QI têm demonstrado um avanço mental significativo em resposta às smart drugs. Mas isso não implica que seremos humanos mais evoluídos. "Pessoas melhores se conseguem com qualidade de vida", diz o especialista. "Temos várias maneiras de melhorar a memória e a cognição - trabalhando menos, por exemplo. Em uma sociedade em que tudo melhora de forma artificial, perdemos a noção do que é normal." Eis aí um erro que coloca em risco qualquer processo evolutivo. (Colaborou Fernanda Colavitti)


FONTE: Editora GLOBO

domingo, 8 de novembro de 2009

Um calote no cidadão

Artigo de Opinião publicado no Jornal O Estadão em 08/11/2009:

Qualquer empresa que deixar de quitar ou atrasar o pagamento de impostos passa imediatamente a sentir os rigores da lei: multas, juros, impedimentos de negociar com o governo etc. Pessoas físicas, igualmente. Quem não paga o IPVA, por exemplo, arrisca ter seu veículo apreendido na primeira blitz de trânsito; se está inadimplente com o Imposto de Renda, cassam-lhe o passaporte. E assim por diante. Seja quem for, o adjetivo que se emprega para qualificar o sonegador ou o inadimplente é o de caloteiro. E se for o contrário? Se for o governo a não pagar as dívidas que contraiu com contribuintes, com que nome qualificá-lo?
Muito embora seja da “tradição” de quase todos os governos não pagar, ou não pagar em dia seus compromissos, eis que agora o Congresso Nacional busca institucionalizar a prática do calote estatal. E o fez ao aprovar, semana passada, uma proposta de emenda constitucional – a PEC 12/06, também conhecida pelo desonroso nome de “PEC do calote” – pela qual o Estado ganha o “direito” de jogar para as calendas gregas a obrigação de pagar dívidas reconhecidas em caráter irrecorrível pela Justiça, os chamados precatórios.
Na última quarta-feira, graças aos votos de 328, a ausência de uma centena e a abstenção de alguns de seus 510 deputados, a Câmara Federal referendou o anteprojeto em primeira discussão, com quase nenhuma mudança fundamental em relação ao unanimemente aprovado pelo Senado em abril. Cumprida apenas mais a formalidade do segundo turno de votação, o que poderá se dar nos próximos dias, a PEC estará pronta para ser sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E, então, estará configurado o calote de cerca de R$ 100 bilhões – algo equivalente a quase quatro vezes o tamanho do Orçamento do Paraná deste ano – que os governos estaduais e municipais impõem contra o direito líquido, certo e irrecorrível de que são titulares milhões de brasileiros.
Pela legislação atual, os credores de títulos judiciais perante os entes públicos podem requerer o valor que lhes é devido para recebimento até o último dia do exercício seguinte. Assim, terminado um processo, a Fazenda Pública deveria pagar o que deve até o final do ano seguinte, observada a ordem cronológica dos requerimentos. Muito embora esta seja a previsão legal, todos nós sabemos que ela não é cumprida – daí o absurdo acúmulo de precatórios pendentes, apesar das facilidades de prazo (dez anos!), parcelamento e juros que a Constituição Federal de 1988 já concedeu ao Estado.
A PEC 12/06 vem para agravar ainda mais esta situação injusta. Por meio dela, estados, Distrito Federal e municípios poderão parcelar suas dívidas em até 15 anos, ou, ainda, optar por depositar apenas um determinado porcentual de sua “receita corrente líquida”, sem prazo máximo determinado para o pagamento total das suas dívidas. Valerá o que lhes for mais conveniente, ou seja, é óbvio, a segunda alternativa.
Isto significa que, em excepcional hipótese, os cidadãos e as pessoas jurídicas detentoras de precatórios só receberão o que por direito lhes cabe em 15 anos. A outra hipótese, certamente muito mais tentadora para os governantes, caracterizará com ainda maior clareza o monstruoso calote de que falamos: obedecido o regime de pagamento com base em porcentual de receita, o parcelamento poderá se estender por décadas, muitas décadas. Já se calculou, por exemplo, que, no caso do Espírito Santo, a quitação de suas atuais dívidas se dará em 140 anos.
A emenda constitucional vai adiante na sanha de prejudicar os credores. Permite-lhes receber antes, desde que, porém, se inscrevam em eventuais leilões promovidos pelos estados e municípios, por meio dos quais “ganha” quem oferecer os maiores descontos... Mais ainda: legaliza o comércio de precatórios entre particulares, hoje um próspero e lucrativo mercado que se faz sob as sombras da informalidade e da exploração especulativa dos deságios a que se submetem os credores desesperançados.
Estas, dentre muitas outras características danosas que a PEC do calote introduz na Carta Magna, são mais do que suficientes para configurar a inominável violência que se perpetra contra cidadãos e empresas. É contristador para todos nós verificar que tal se dê às vésperas da comemoração dos 120 anos de República – pois não há nada de mais antirrepublicano do que a República voltar-se contra a cidadania ao dar forma de lei o que é intrinsecamente ilegítimo e injusto.

Bolha Especulativa no Brasil ?

Li um artigo no Portal RPC neste domingo e fiquei com algumas dúvidas na minha cabeça.

Me parece que, para alguns "gurus" das finanças, publicar artigos em veículos de informação pública que visem jogar um balde de água morna no apetite dos investidores com alguma intenção política pré-estabelecida é praxe.

A seguir, transcrevo ipsis literis o artigo lido:

Há risco de bolha especulativa no Brasil, dizem economistas

07/11/2009 | 14:21 | Agência Estado


O IIF (Institute for International Finance ), espécie de Febraban (Federação Brasileira de Bancos) mundial, afirma que "há uma conjunção de fatores preocupantes no Brasil" que podem indicar a formação de uma bolha. A expansão de crédito ficou em 30% no ano passado, neste ano caiu para 12% - apesar da queda, ainda está em dois dígitos.

O País está recebendo grandes volumes de fluxos de capital - em outubro, o segundo maior da história. O mercado acionário está em alta e o real bate recordes - foi a moeda que mais se valorizou, cerca de 34% neste ano. "Todos esses fatores combinados representam um risco de bolha de ativos", disse Hung Tran, diretor da área de mercado de capitais e mercados emergentes do IIF. "Essa excessiva valorização de ativos e moeda terá de ser corrigida mais cedo ou mais tarde, o que não vai ser fácil."

A economia brasileira é vítima do próprio sucesso, dizem os economistas. Com um crescimento expressivo e sistema financeiro saudável, o Brasil vem recebendo muitos investimentos. Mas o Brasil também é refém do ambiente externo: as economias avançadas ainda estão se recuperando, e devem manter as taxas de juros baixas por muito tempo, como sinalizou o Fed (o banco central americano) nesta semana.

Com juros baixos e dólar em queda, emergentes como o Brasil se tornam principal alvo para o chamado carry-trade. Os investidores tomam emprestado nos EUA, com juros baixos e dólar em queda, e aplicam em tudo quanto é ativo considerado mais arriscado, inclusive no Brasil. O economista Nouriel Roubini alertou para a volta do carry-trade, que anteriormente era feito com o iene, em uma coluna recente no jornal Financial Times. "Os preços dos ativos arriscados subiram demais, muito cedo e muito rapidamente em comparação com os fundamentos macroeconômicos", escreveu Roubini.

Para Arvind Subramanian, economista do Peterson Institute for International Economics, tanto China como Índia e Brasil são grandes alvos de investimento porque as economias estão em franca recuperação e oferecem bom retorno. "Mas a China controla o câmbio e a Índia tem grandes restrições a capital (como limites em investimentos em títulos domésticos), então o Brasil, que tem maior liberdade, fica mais vulnerável", diz Subramanian.

Na tentativa de lidar com essa enxurrada de capital, o Brasil adotou IOF de 2% sobre investimentos estrangeiros em renda fixa e variável.

Apesar da medida, outubro foi o mês com segundo maior fluxo cambial da história. O Ministério da Fazenda estuda algumas modificações no imposto: isentar IPOs, lançamentos iniciais de ações, aumentar a alíquota do IOF e taxar outros tipos de operações.

"O governo precisa usar um arsenal de medidas para lidar com isso, não adianta só taxar a entrada de capitais", diz Tran. "Precisam apertar a política fiscal para tirar pressão da política monetária."

Para Subramanian, o Brasil terá de adotar medidas com maior "convicção", não se restringindo a um IOF tímido sobre os fluxos de capital. "Mas não existe uma receita pronta, é muito difícil lidar com excesso de entrada de capital", disse o economista. "Em última instância, precisamos esperar a recuperação nos países desenvolvidos", disse Subramanian, que escreveu com John Williamson um artigo no Financial Times, há uma semana, defendendo a imposição de impostos sobre capital no Brasil e criticando a postura conservadora do Fundo Monetário Internacional (FMI) a respeito do tema.

O maior foco de preocupação para essa bolha ainda é a Ásia, onde já há inflação significativa nos preços dos mercados imobiliário, acionário e de crédito doméstico. Na semana passada, o Banco Mundial afirmou que a enxurrada de capital no leste da Ásia - aplicados em bolsa e mercado imobiliário na China, Hong Kong, Vietnã e Cingapura - "levam a uma preocupação sobre a formação de bolhas nos preços dos ativos". Apesar de estar em situação menos aguda, o Brasil começa a chamar atenção.

"No Brasil, a combinação de sintomas mostram que as autoridades precisam abordar esse problema", diz Tran. Mas de certa maneira, o Brasil está refém da situação externa, que não deve mudar tão cedo. Até que termine o processo de "desendividamento" de suas economias, os países desenvolvidos terão de manter as condições benignas - juros baixíssimos - que, combinado ao dólar em queda, são o combustível dos carry-trades e da potencial bolha.

"Controle de capital apenas ameniza a pressão e a volatilidade, mas não é forte o suficiente para reverter a tendência; além disso, os 2% são muito baixos em comparação com os retornos de investir no Brasil", disse Bertrand Delgado, economista sênior no Roubini Global Economics.

"Será preciso esperar o dólar se valorizar e haver uma elevação nos Treasuries, o que não deve ocorrer antes da metade do ano que vem." Segundo a previsão da Roubini Global Economics, a liquidez só vai se reduzir no final do ano que vem ou início de 2011. Seis meses antes, os mercados vão começar a precificar isso, e os juros vão subir, diz Delgado.

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Meus Comentários ou Considerações



Primeiramente que quando falamos de risco podemos associar a probabilidade de ocorrência de n possíveis eventos de natureza desconhecida e complexa, ainda mais quando tratamos de uma ciência social como a Economia.

Em segundo, é interessante notar que para estes economistas uma conjunção de fatores como a taxa de expansão de crédito desacelerada, grande volume de fluxos de capital, recuperação da Bolsa de São Paulo e real em alta (hoje em torno de 1,72 R$/US$) representem um risco de bolha de ativos.

Num artigo muito bem escrito pelo meu ex-professor de macroeconomia na ufpr e meu orientador de monografia de graduação, Marcelo Curado, são verificadas as limitações na teoria das bolhas especulativas racionais na explicação da flutuação dos preços dos ativos financeiros.

"A literatura de bolhas especulativas racionais, ainda que justifique do ponto de vista da construção convencional a ocorrência de flutuações nos preços dos ativos, apresenta pelos menos duas limitações importantes.

Em primeiro lugar, essa literatura não apresenta um conjunto de explicações econômicas para as flutuações nos preços dos ativos. A bolha é uma possibilidade matemática, uma possível solução de uma equação diferencial, sem maiores preocupações com os fenômenos econômicos que geram esse processo.

A segunda limitação diz respeito à questão da recorrência verificada empiricamente nos processos de flutuações nos preços dos ativos. A teoria busca explicar um fenômeno recorrente, comum ao funcionamento do mercado, como fruto de fenômenos exógenos ao seu funcionamento. As bolhas racionais fazem sentido na explicação de fenômenos pontuais e isolados. Para que os modelos de bolhas racionais pudessem explicar o surgimento de flutuações sistemáticas nos entanto, se isso ocorrer, os agentes não podem ser considerados racionais, o que contradiz a teoria."


De acordo com Curado (2006) autores de inspiração heterodoxa como Minsky, Kindleberger e o próprio defunto John Maynard Keynes, centram-se na explicação do fenômeno a partir do comportamento normal dos agentes em mercados financeiros marcados pela incerteza. Em última instância, os processos de flutuações nos preços dos ativos surgem de ondas de otimismo/pessimismo derivadas do comportamento normal dos agentes no mercado, o que limita a capacidade de explicar e prever do analista econômico.

Em síntese, estes autores de inspiração keynesiana se distanciam da explicação convencional de que as bolhas surgem aleatoriamente e, portanto, de forma exógena ao funcionamento do sistema econômico.


O professor Marcelo finaliza com um parágrafo muito claro e objetivo...

"A capacidade de interpretar a flutuação nos preços dos ativos como derivada do comportamento normal dos mercados, ou seja, de tornar essa flutuação endógena e recorrente e, portanto, mais adequada às evidências empíricas disponíveis, leva este trabalho a concluir que a interpretação de inspiração keynesiana – em particular a pós-keynesiana – se constitui num referencial teórico mais adequado ao estudo do tema, sobretudo quando comparada com a literatura de bolhas especulativas racionais."

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Uma nova arquitetura mundial

A escolha do mundo agora é entre capitalismo internacional e capitalismo estatal.

Por George Soros 05/11/2009

O mundo enfrenta hoje outra escolha desoladora entre duas formas diferentes de organização.

Vinte anos depois da queda do Muro de Berlim e do colapso do comunismo, o mundo está enfrentando outra escolha desoladora entre duas formas fundamentalmente diferentes de organização: capitalismo internacional e capitalismo estatal. A primeira, representada pelos Estados Unidos, faliu, e a última, representada pela China, está em ascensão. Seguir a trilha da menor resistência levará à desintegração gradual do sistema financeiro internacional. Um novo sistema multilateral baseado em princípios mais sólidos precisa ser inventado.

Apesar da dificuldade de obter cooperação internacional em torno da reforma reguladora em etapas, ela pode ser conseguida num grande pacto que reorganize todo o sistema financeiro. Uma nova conferência de Bretton Woods, como aquela que estabeleceu a arquitetura financeira internacional pós-Segunda Guerra Mundial, é necessária para estabelecer novas regras internacionais, incluindo o tratamento de instituições financeiras que sejam grandes demais para falir e o papel dos controles de capital. Ela também teria de reformular o Fundo Monetário Internacional (FMI), para refletir melhor a hierarquia social predominante entre os Estados e rever seus métodos de atuação.

Além disso, um novo Bretton Woods teria de reformar o sistema monetário. A ordem do pós-guerra, que tornou os EUA um país mais igual que os demais, gerou desequilíbrios perigosos. O dólar já não desfruta a confiança e a certeza de antigamente, porém nenhuma outra moeda pode assumir o seu lugar.

Os EUA não deveriam se esquivar do uso mais disseminado dos Direitos Especiais de Saque (SDRs, na sigla em inglês) do FMI. Considerando que os SDR são denominados em várias moedas nacionais, nenhuma moeda isolada poderia desfrutar uma vantagem injusta.

A gama de moedas incluídas nos SDR precisaria ser ampliada, e algumas das moedas recém-agregadas, incluindo o renmimbi, podem não ser plenamente conversíveis. Isso, por sua vez, permitiria à comunidade internacional pressionar a China para que abandone sua âncora cambial ante o dólar e seria a melhor forma de reduzir desequilíbrios internacionais. Além disso, o dólar continuaria sendo a moeda de reserva preferida, contanto que seja administrada de forma prudente.

Uma grande vantagem dos SDR é que eles permitem a criação internacional de moeda corrente, que é especialmente útil em tempos como o atual. O dinheiro poderia ser direcionado aonde fosse mais necessário, ao contrário do que está acontecendo atualmente. Um mecanismo que permita a países ricos que não necessitam de reservas adicionais transferir suas verbas aos que necessitarem estaria prontamente disponível, usando as reservas de ouro do FMI.

Reorganizar a ordem mundial exigirá se estender para além do sistema financeiro e envolver as Nações Unidas, especialmente a filiação ao Conselho de Segurança. Esse processo precisa ser iniciado pelos EUA, mas China e outros países em desenvolvimento deveriam participar como iguais. Eles são membros hesitantes das instituições de Bretton Woods, que são dominadas por países que já não são dominantes. As potências ascendentes devem estar presentes na criação desse novo sistema para assegurar que sejam adeptos atuantes.

O sistema não poderá sobreviver na sua forma presente, e os EUA têm mais a perder em não se posicionarem na vanguarda da sua reforma. Os EUA ainda estão numa posição de liderar o mundo, mas, sem uma liderança previdente, sua posição relativa provavelmente continuará erodindo. O país não consegue mais impor a sua vontade sobre os demais, como tentou fazer a administração de George W. Bush, mas ele poderá liderar um esforço conjunto para envolver o mundo desenvolvido e o mundo em desenvolvimento, restabelecendo, a liderança americana de forma aceitável.

A alternativa é assustadora, pois uma potência em declínio que vem perdendo seu predomínio econômico e político, mas que ainda preserva a supremacia militar constitui uma mistura perigosa. Costumávamos ser tranquilizados pela generalização de que países democráticos buscam a paz. Após a era Bush, essa regra não se aplica mais, se é que já se aplicou.

Na verdade, a democracia está envolta em graves problemas na América. A crise financeira causou adversidade a uma população que não gosta de enfrentar realidade dura. O presidente Barack Obama acionou o "multiplicador de confiança" e alega ter contido a recessão. Se houver uma "recaída" da recessão, porém, os americanos ficarão suscetíveis a todos os tipos de alarmismo e demagogia populista. Se Obama fracassar, a próxima administração ficará seriamente tentada a criar alguma distração dos problemas do país - a um grande risco para o mundo.

Obama tem a visão certa. Ele crê em cooperação internacional, no lugar da filosofia da lei do mais forte da era Bush-Cheney. O aparecimento do G-20 como principal instância de cooperação internacional e do processo de avaliação por especialistas, acertado em Pittsburgh, são passos na direção certa.

O que está faltando, porém, é um reconhecimento generalizado de que o sistema está falido e precisa ser reinventado. Afinal, o sistema financeiro não desmoronou de todo, e o governo Obama tomou uma decisão consciente de reviver os bancos com subsídios dissimulados, em vez de recapitalizá-los compulsoriamente. Essas instituições que sobreviveram deterão uma posição de mercado mais sólida do que nunca, e resistirão a uma reestruturação sistemática.

A liderança da China precisa ser ainda mais previdente que Obama. A China está substituindo o consumidor americano como motor da economia mundial. Como é um motor pequeno, a economia mundial crescerá em ritmo mais lento, mas a influência crescerá rapidamente.

Por enquanto, o público chinês está disposto a subordinar sua liberdade individual à estabilidade política e ao progresso econômico. Mas isso pode não continuar indefinidamente - e o resto do mundo jamais subordinará a sua liberdade à prosperidade do Estado chinês.

À medida que a China se tornar uma líder mundial, ela precisará se transformar numa sociedade aberta que o resto do mundo esteja disposto a aceitar como uma líder mundial. Da forma como estão as relações de poderio militar, a China não tem nenhuma alternativa ao desenvolvimento harmonioso e pacífico. Na verdade, o futuro do mundo depende disso.

George Soros é presidente do conselho do Soros Fund Management e da Open Society Institute. Seu livro mais recente é "The Crash of 2008". Copyright: Project Syndicate, 2009. www.project-syndicate.org. O podcast em inglês em http://media.libsyn.com/media/ps/20091103Soros.mp3