domingo, 18 de outubro de 2009

It´s a long Way - Caetano Veloso

Woke up this morning
Singing an old, old Beatles song
We're not that strong, my lord
You know we ain't that strong
I hear my voice among others
In the break of day
Hey, brothers
Say, brothers
It's a long long long long way

Os olhos da cobra verde
Hoje foi que arreparei
Se arreparasse a mais tempo
Não amava quem amei

Arrenego de quem diz
Que o nosso amor se acabou
Ele agora está mais firme
Do que quando começou

A água com areia brinca na beira do mar
A água passa e a areia fica no lugar

E se não tivesse o amor
E se não tivesse essa dor
E se não tivesse sofrer
E se não tivesse chorar
E se não tivesse o amor

No Abaeté tem uma lagoa escura
Arrodeada de areia branca


Para ouvir a musica clique aqui.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Hitler fez ANPEC

Para quem não sabia que Adolph Hitler prestou ANPEC para a linha de pesquisa em Economia Política, veja este vídeo na íntegra legendado.

Físicos e a Alquimia dos Mercados

Um belo material do The New York Times, publicado na Folha, sobre o papel dos físicos na avaliação de riscos do mercado financeiro que recebi por e-mail de um amigo físico.

Escrito por Dennis Overbye, o artigo “A alquimia dos mercados” tenta elucidar o limite de funcionamento das estratégias quantitativas, até que ponto a crença na métrica de risco foi responsável pela crise ?

Emanuel Derman esperava sentir uma certa fossa quando deixou a física de partículas por um emprego em Wall Street em 1985. Afinal, por quase 20 anos, como estudante na Universidade Columbia em Nova York e bolsista de doutorado em instituições como Oxford e a Universidade do Colorado, ele havia convi-vido com prêmios Nobel. Como administrar dinheiro poderia se comparar com isso?

Mas a fossa não aconteceu. Pelo contrário, ele se apaixonou por uma área das finanças que lida com opções de ações.

“A teoria das opções tem uma certa profundidade. Era muito elegante; tinha a qualidade da física”, explicou recentemente Derman com um pouco de melancolia, sentado em seu escritório em Columbia, onde hoje é professor de finanças e consultor de gestão de riscos na Prisma Capital Partners.

Derman, que passou 17 anos na Goldman Sachs e chegou a diretor-gerente, foi precursor de muitos físicos e outros cientistas que inundaram Wall Street. Eles são conhecidos como “quants”, porque fazem finanças quantitativas. Usam técnicas com as quais esperavam solucionar os mistérios do universo para ganhar dinheiro.

Essa enxurrada parece continuar, apesar do colapso econômico mundial. Alguns quants analisam o mercado de ações. Outros produzem os modelos de computador que analisam os riscos e lucros quase incomensuráveis de negócios complexos ou dirigem seus próprios fundos hedge e percorrem vastos universos de dados em busca de disparidades mínimas que possam lhes dar uma vantagem.

Mas mesmo os quants tendem a concordar que o que fazem não é exatamente ciência.

Como diz Derman em seu livro “My Life as a Quant: Reflections on Physics and Finance” [Minha vida como um quant: Reflexões sobre física e finanças], “na física poderá haver um dia uma Teoria do Tudo; nas finanças e nas ciências sociais, você terá sorte se houver uma teoria útil de qualquer coisa”.

Os físicos começaram a deixar a academia atrás dos empregos em Wall Street no final dos anos 1970. Chegaram no meio de uma revolução financeira. Entre outras coisas, o aumento da inflação havia tornado as finanças mais complexas e arriscadas, e era necessário ter uma perícia matemática cada vez mais sofisticada para entender até investimentos simples como títulos. Chegam os quants.

Mas foi nas opções de ações que essa revolução teve seu maior e mais famoso sucesso. Na década de 1970 o já morto Fischer Black, do Goldman Sachs, Myron S. Scholes, da Universidade Stanford, e Robert C. Merton, de Harvard, haviam descoberto como avaliar e proteger essas opções de uma maneira que parecia garantir os lucros. O chamado modelo Black-Scholes foi o padrão de ouro dos quants desde então.

Merton e Scholes ganharam o prêmio Nobel de ciência econômica em 1997 pelo modelo de opções de ações. Apenas um ano depois, o Long Term Capital Management, fundo hedge altamente vantajoso cuja diretoria incluía os dois laureados pelo Nobel, desmoronou e teve de ser socorrido em US$ 3,65 bilhões por um grupo de bancos.

Depois, um memorando do banco Merrill Lynch notou que os modelos financeiros “podem dar uma sensação de segurança maior do que se garante; portanto, a confiança nesses modelos deve ser limitada”.

Foi uma lição que aparentemente ninguém aprendeu.

Diante da situação mundial atual, é justo perguntar se os quants têm alguma ideia do que estão fazendo.

Lee Smolin, físico do Instituto Perimeter de Física Teórica em Waterloo, Ontário (Canadá), disse: “O que me surpreende ao saber disso é como são tênues as bases teóricas das alegações de que os derivativos e outros instrumentos financeiros complexos reduziriam os riscos, quando na verdade sua utilização trouxe instabilidades”. Um dos críticos mais veementes é Nassim Nicholas Taleb, ex-corretor e hoje professor na Universidade de Nova York.

Ele teve uma recepção adulatória no recente Fórum Econômico Mundial em Davos (Suíça). Em seu livro campeão de vendas “The Black Swan” [O cisne negro], Taleb afirma que as finanças e a história são dominadas por eventos raros e imprevisíveis.

“Qualquer corretor lhe dirá que todo gerente de risco é uma fraude”, ele disse, e os corretores de opções costumavam se dar bem antes de Black-Scholes.

“Acho que os físicos deveriam voltar para o departamento de física e deixar Wall Street em paz”, ele disse. Segundo Derman, os modelos podem ser uma orientação útil desde que você não os confunda com ciência real. Mas algumas pessoas levam os modelos demasiadamente a sério? “Não as pessoas inteligentes”, disse Derman.


Extraído do Blog Trading Quantitativo

Filosofia do Acaso e Caos

Em um artigo publicado nesse mês no Estadão, o professor Elias Thomé faz um interessantíssimo comentário sobre o livro “O Andar do Bêbado” de Leonard Mlodinow, com pertinentes reflexões, podemos associar tranquilamente com o conteúdo desse blog, caos no mercado financeiro.

Abaixo reproduzo o texto:

Numa pesquisa de 2008, um grupo de especialistas deu nota alta para uma garrafa com etiqueta de US$ 90 e nota baixa para uma outra, com etiqueta de US$ 20, embora os sorrateiros pesquisadores tivessem enchido as duas com o mesmíssimo vinho. Até aí, nada de muito novo quanto à nossa capacidade de projetar expectativas: depois de ouvirem elogios a um filme, futuros espectadores tendem a gostar mais dele. A novidade é que, no mesmo momento do teste do vinho, a ressonância magnética mostrou que a área cerebral codificadora da nossa experiência do prazer, ficou muito mais ativa quando os voluntários tomavam o vinho que acreditavam ser o mais caro.

Este é um, entre muitos e surpreendentes exemplos contidos em O Andar do Bêbado, do norte-americano Leonard Mlodinow, tradução de Diego Alfaro – uma bem-humorada síntese de recentes pesquisas numa área limítrofe, provisoriamente designada como “ciência da incerteza”. Pouco ortodoxo na sua especialização em física e matemática, Mlodinow foi, entre outras coisas, colaborador de Stephen Hawking em Uma Nova História do Tempo, consultor das séries televisivas Jornada nas Estrelas e MacGyver, além de autor de livros importantes, como O Arco-Íris de Feynman.

“Andar do bêbado”, metáfora usualmente empregada, desde Einstein, para designar o movimento aleatório das moléculas de água, serve para designar a maneira como os incontáveis avanços na informática, nanotecnologia e outras áreas vêm produzindo alterações radicais na compreensão do universo do acaso e do contingente. Nas últimas décadas vem surgindo uma área que reúne muitas disciplinas que se concentram em analisar o modo como as pessoas reagem, julgam e tomam decisões em relação à incerteza e ao acaso. Envolve não apenas a matemática, a física, a estatística e outras ciências tradicionais, como também a psicologia cognitiva, a filosofia, a neurociência – e até a História, já que em face da complexidade cada vez maior dos fenômenos, não é mais possível classificar variáveis com antecedência, mas só em retrospecto. Em quaisquer situações, é necessário olhar pelo espelho retrovisor da história, remontar em detalhes e reconstituir toda a cadeia de eventos passados. Mas nada de voltar a uma história arrumadinha, daquelas que já sabemos o final – pelo contrário, temos que captar aqueles momentos decisivos, contingentes, tão imprevisíveis quanto o andar de um bêbado.

O livro de Mlodinow é um esforço para trazer parte destas pesquisas para o grande público. E ele o faz de uma forma despretensiosa e provocadora, amealhando tanto divertidos exemplos, que vão de Madonna a Stephen King, quanto casos mais sérios, como graves erros médicos ou em processos judiciais decorrentes de falsa compreensão da probabilidade condicional. Explora ainda as inversões, os chamados “paradoxos da loteria”, mostrando que um universo completamente aleatório também seria impossível. Por mais que os cientistas refinem os sistemas de criação de séries aleatórias, não conseguem banir totalmente as regularidades. Uma das tentativas mais criativas veio do crime organizado, quando os mafiosos do Harlem, em 1920, buscaram números para uma loteria ilegal nos 5 últimos algarismos do balanço do Tesouro Federal! Também neste caso não eram totalmente aleatórios, pois números surgidos de maneira cumulativa possuem um viés que tende a favorecer sempre algarismos mais baixos.

Mlodinow também refaz a pouco conhecida história de todos aqueles pensadores que lidaram com a incerteza. E não é uma história fácil de reconstruir, porque, afinal, muitos dos seus especialistas foram pessoas mais preocupadas com magia e apostas, do que com livros e raciocínios abstratos. Mas o leitor pode familiarizar-se com abstratos conceitos da matemática e da estatística, através das histórias de cientistas que também foram, por assim dizer, nas horas vagas, grandes apostadores. Lá estão pitorescas histórias de Gerolamo Cardano, Blaise Pascal, Pierre de Fermat, Jacob Bernoulli, Thomas Bayes e Adolphe Quételet, que Mlodinow retira do ostracismo. Oferece ainda uma interessante releitura de certos conceitos, como o de “homem médio” de Quételet – que foi muito mais um esforço inaudito de leitura e compreensão do universo do acaso e da contingência. No século 19, o discípulo mais inspirado de Quételet foi o historiador (e exímio jogador de xadrez) Thomas Buckle – que aqui no Brasil ficou mais conhecido pela divulgação que Silvio Romero fez de suas teses deterministas mais disparatadas. Inspirado em O Clube Metafísico (premiado ensaio de Louis Menand, ainda não traduzido no Brasil), Mlodinow mostra-nos um outro lado da obra de Buckle, uma precoce paixão em tentar medir o aleatório que, afinal, acabou marcando dois dos seus leitores mais entusiastas: Darwin e Dostoievski.

“Estatística é a ciência que diz que se eu comi um frango e você não comeu nenhum, teremos comido, em média, meio frango cada um.” Assim o humorista Pitigrilli definiu estatística. Mas isto foi no ano de 1933, quando a revolução estatística, derivada das novas e sofisticadas tecnologias, ainda estava engatinhando. Mlodinow mostra que não foi a realidade que se tornou mais aleatória e, sim, as medições que se tornaram infinitamente mais precisas.

Seja como for, a questão mais profunda continua sendo filosófica: o estudo do universo aleatório nos mostra que enxergar os eventos por uma bola de cristal é possível, mas, infelizmente, apenas depois que eles já aconteceram. É muito verdadeiro o ditado “depois da onça morta, todo mundo é caçador”, mas as pessoas agem comumente como se isto não fosse verdade. Todas as teorias da história capazes de abarcar o futuro foram desacreditadas. E isto não apenas porque ruíram todos aqueles governos baseados em ideologias que propalavam conhecer os rumos da história. Explorando as novas ciências da incerteza, Mlodinow vai além, argumentando que a ideia de um futuro completamente permeado pela contingência é uma operação que a mente humana se mostra incapaz de executar, pois até mesmo quando lidamos com a incerteza e o acaso, a parte iluminada do nosso cérebro é a mesma que lida com questões emocionais. Lidamos mal com o acaso: crentes inabaláveis ou incorrigíveis apostadores, nossas máquinas cerebrais incentivam nossa vocação de apóstolos do tudo ou nada. Já as novas ciências da incerteza, mostram que precisamos de gradações de crença, evidências atenuantes e verdades parciais – sempre diferentes de 100 ou 0%. Mlodinow hesita em transferir tudo isso para o mundo ético, mas, ao concluir com a história dos seus pais – que escaparam por pouco da morte em Buchenwald – deixa para o leitor a ingrata tarefa da escolha responsável ou da indiferença moral.

Elias Thomé Saliba é historiador, professor titular da USP e autor, entre outros livros, de Raízes do Riso (Companhia das Letras)

Fonte: Estadão

Sobre Modelos Quantitativos e a Crise

Reproduzo aqui um excelente artigo do colega físico Daniel Ferrante sobre os devaneios da máquina publicitária da crise, evidentemente sob o disfarce do mainstream da mídia consagrada. Artigos em jornais locais são meras reproduções de uma classe de opinião que vem ganhando força, plantadas pelos homens por trás da cortina.

Esperteza no Mercado Financeiro…

Já não é de hoje que eu ando ouvindo as trombetas do apocalipse culpando os “analistas quantitativos” (chamados de “quants”) pela infâme crise financeira atual: segundo voz corrente em Wall Street, “a culpa de tudo é desses PhDs”,

“Quants occupy a revealing niche in modern capitalism. They make a lot of money but not as much as the traders who tease them and treat them like geeks. Until recently they rarely made partner at places like Goldman Sachs. In some quarters they get blamed for the current breakdown — “All I can say is, beware of geeks bearing formulas,” Warren Buffett said on “The Charlie Rose Show” last fall. Even the quants tend to agree that what they do is not quite science.”

Ou seja, no final das contas, eis o que está em jogo: Quanto mais “racionalização” (i.e., o trabalho dos quants) se tenta introduzir no tal “mercado financeiro”, pior fica a situação! :cry:

Efetivamente, isso até faz sentido (nem acredito que falei isso — se protejam dos raios! :evil: ), uma vez que o tal “mercado financeiro” foi construído, historicamente, por forças que só viam uma maximização selvagem dos lucros, sem racionalidade nenhuma, quiçá ser passível de modelagem matemática. De fato, é como tentar se domar uma besta selvagem… com sete cabeças! :shock:

Muita ingenuidade é acreditar que se pode simplesmente colocar um bando de gente modelando algo que, ainda hoje, contém forças intensas que não querem se submeter a nenhum tipo de racionalização (uma vez que, mais cedo ou mais tarde, isso acaba implicando numa racionalização dos lucros, i.e., vc não ganha tão selvagemente mas também não perde tanto dinheiro a ponto de causar uma epopéia mundial, como essa que estamos vivendo :!: ).

O que é mais triste de tudo isso — absolutamente triste :cry: — é a idéia de que todo esse impasse não passa duma reinvenção da famigerada Guerra das Ciências (leia mais em Phony Science Wars, The Two Cultures,Making Social Science Matter, Social Text Affair, Edge Foundation, The Third Culture). Pior ainda, como o fato é que estamos numa crise financeira (recessão a caminho duma depressão!) de proporções mundiais, envolvendo as maiores potências econômicas atuais, fica cabalmente demonstrado que irracionalidade não leva a lugar nenhum, i.e., enquanto os cães ladravam (tentando avisar que a selvageria não iria levar a lugar nenhum), a caravana ia passando incólume (sem nunca perceber o tamanho do buraco negro que estava a sua frente).

Triste é ter que notar que essa é a essência da natureza humana: a completa e total falta de comunicação, um cabo-de-guerra onde todo mundo perde… :cry: Por que é tão difícil assim de finalmente darmos um passo a frente, largarmos essa irracionalidade “macho alpha” (que é a bússola guia dos “stock traders”) de lado, e partirmos em direção duma maior inclusão de razão na nossa vida como um todo, das “hard sciences” até o mercado financeiro?!

Esse é o objetivo final da chamada Terceira Cultura, que tenta construir uma ponte entre o antigo cabo-de-guerra representado pela “Guerra das Ciências”, e mover a humanidade adiante. E é isso que eu honestamente espero que deixemos como legado para as próximas gerações.

Extraído do Blog Trading Quantitativo

sábado, 3 de outubro de 2009

As contribuições de Larry Carlson

De acordo com o post anterior a respeito de como Operar seu Cérebro proposto por Leary, sugiro que apliquemos os experimentos do prof. Leary com as contribuições de Larry Carlson.

Este cara se auto-denomina um artista visionário e publica n psicodelias e devaneios hi-tech em seu website.

Vale a pena conferir!!!

Entrevista com Leary

Por Cláudio Júlio Tognolli 20/10/2003 às 02:53

Esta entrevista foi publicada na revista INTERVIEW de fevereiro de 1996. Portanto, cerca de três meses antes da morte de Leary, em 31 de maio.


Cláudio Júlio Tognolli entrevista Timothy Leary, uma das figuras mais controvertidas do século XX.


A VIAGEM


O psicólogo Timothy Leary construiu seu nome destruindo o autoritarismo. Hoje, aos 75 anos de idade, três cânceres o destroem — e bem no auge da geração que ele ajudou a construir. O “Pai da Contracultura”, o homem que orientou os Beatles em suas viagens lisérgicas, pede desculpas, enfim. Tem agora seus limites e já não pode responder às minhas perguntas em missivas longuíssimas, sempre enviadas por fax, sempre encerradas com sua chancela lustrosa. “Desculpe-me…, não posso me estender muito”, diz Leary pelo telefone, falando de sua casa na Sunset Boulevard, em Beverly Hills, na Califórnia. A cada dois minutos de conversa Leary se impõe um recesso. Se avança, acessos de tosse tiram-lhe o fôlego e ele fica emudecido.

“Não, eu não vou me matar. Estou com três cânceres terminais, tenho o inimigo em mim mesmo. Disse que gostaria de morrer de uma maneira doce, podendo escolher com quem, onde e como morrer, mas isso não significa que eu vou me matar”, explica-me Timothy Leary. Na primeira quinzena de novembro passado a rede norte-americana CNN havia colocado Leary ao vivo, para todo o mundo, defendendo o direito ao suicídio, o que parecia ser a última viagem do papa do LSD. Ele desmente, deixando, no entanto, fumaça no ar: “Uma coisa eu tenho a dizer: vou morrer logo, muito logo, e essa experiência da morte é algo inacreditável. O último mês de vida é o período mais didático de toda a sua existência”, exulta Leary.

“Junto comigo assisto também à morte dos Estados Unidos. Bill Clinton é um imperador de um império em decadência, os Estados Unidos estão na mesma situação que a URSS estava no início da década de 90.” Leary acredita que, com a morte anunciada de tantos ícones, como ele, uma ferramenta funcione como instrumento coquete para libertar as novas gerações do século 21. “A Internet vai libertar-nos de padres, políticos e outras pragas semelhantes. Espero poder mandar mensagens para você depois que eu morrer.”

Aqui vão talvez umas de suas últimas linhas. Fazem parte de correspondência que troquei com Leary nos últimos cinco anos, desde que ele passou a me dar conselhos sobre uma tese de mestrado, que desenvolvi na ECA-USP, sobre psicanálise e chavões de linguagem. A última vez que nos falamos pessoalmente foi em Key Largo, na Flórida, quando preparava sua vinda ao Brasil, em fevereiro de 1992.

CJT: O senhor poderia fazer um apanhado dos anos 80 e 90?

TL: Eu passei dez longos anos lutando com computadores primitivos cujas telas eram, nos anos 80, cobertas de caracteres alfanuméricos. Eu realmente sofri muito nos anos 80, mas, como toda pessoa sensível, estava tentando desenvolver um software desenhado para potencializar a inteligência, ampliar a criatividade e aumentar a comunicação entre os indivíduos. Aí as coisas começaram a mudar nos anos 90! Agora estamos convertendo os processadores multimídia em fones de olhos. Esses programas de telepresença, de realidade virtual, fortalecem os indivíduos para que criem seus próprios quartos eletrônicos. Nossas casas viram cyber espaços muito confortáveis. Os modens dos telefones proporcionam visitas pessoais. Minha meta, nossa meta, é que nos primeiros cinco anos do ano 2000 cada cidadela do Terceiro Mundo tenha um aparelho de televisão e uma linha telefônica, para que seus habitantes enviem seus olhos e orelhas para visitarem jovens estudantes de todo o mundo. Poder para os pupilos!

CJT: O senhor acha que o marxismo vai reaparecer?

TL: Ah!, ah!… Por marxismo eu entendo que você esteja se referindo a Groucho, Harpo e Chico. Você está falando do Camarada Mao e de seu primo Karl? Eles, eu digo sempre isto, são figuras do distante século 19. Foram antigos heróis das Guerras Púnicas entre o Monopólio Capitalista e o Monopólio Socialista. Meu caro, a luta agora no século 21 é sobre quem controla suas telas, OK? De um lado nós temos os monopólios de transmissoras, de grandes meios de comunicação de massas. No outro lado, temos empreendimentos livres. Temos, em vez de Broadcasting, os Broad Catchings, informação livre e barata fluindo. Quem controla as retinas de seus olhos?
As TVs massificadas? Meu mote é “Poder para os pupilos”!

CJT: Como o senhor prevê o futuro da cultura e da contracultura?

TL: Eu celebro a globalização da arte e da cultura, o mundo eclético da música híbrida. A mistura do reggae, hip hop, salsa, soul, Chicago Industrial, Tokyo House, funk, jazz e rock and roll. Os novos indivíduos estarão zapeando seus sinais uns para os outros e usando aparelhos multimídia, da mesma forma que usam hoje seus fones de vozes. Você me pergunta também, é claro, das culturas das drogas. Há duas delas muito diferentes, por favor não as confunda. Há o período da cultura das drogas leves, entre 1955 e 1980, que era pacífico, humanista, pagão, amável, não materialista, tolerante, antimilitarista, desorganizado, anárquico. Mas nos anos 80 surgiu o Cartel Hard Drugs, a facção Reagan-Bush no Pentágono, que tomou conta dos Estados Unidos. Súbita e agressivamente surgiram a cocaína, o crack, os esteróides. E retornou à popularidade o uso pesado de álcool e armas pesadas.

CJT: O senhor acredita em Psicanálise?

TL: Você se refere a deitar passivamente, docilmente em um divã e ouvir um doutor sem o mínimo de humor confundir sua cuca? Não, não, muito obrigado. Eu tentei isso duas vezes e pratiquei por um tempo. Chutei longe esse hábito. Eu me juntei aos Psicanalisados Anônimos. A Psicanálise é uma lição de jardim da infância. Tente-a, mas permaneça irreverente. As pessoas que pensam por si mesmas são felizes. Por quê? Porque elas não têm que culpar ninguém, exceto elas mesmas. E eu posso mudar a mim mesmo.

CJT: Quem será a Nova Geração?

TL: Eu os chamo de New Breed. Eles combinam o melhor das contraculturas americana, japonesa e européia. São animados, autoconfiantes, individualistas, zen-oportunistas, habilidosamente psicodélicos e super high tech. São tolerantes, não sexistas e globalizantes. Começam em 1992 e vão até 2010.

CJT: Como essa geração vai trabalhar sua liberdade de consciência, da mesma forma que o senhor propunha aos Beatles?

TL: Mudando seus memes, sem a ajuda do Prozac. Memes são idéias conceituais, paradigmas básicos, palavras-chaves, que determinam a evolução biológica. Eles se reproduzem e se espalham de pessoa para pessoa. São expressados num símbolo, palavra ou ícone. São como marcas, selos, para os arquivos de seu computador biológico, seu cérebro. Uma forma de se mudar a cultura e modificar os memes é introduzir novos memes no cérebro das pessoas. Isso é feito através do estímulo multissensorial da atividade psicomotora. Os católicos o fazem usando sons, perfumes, luzes e reflexos que imprimem a realidade católica no cérebro das pessoas. As organizações cada vez mais vão usar os memes para controlar o cérebro das pessoas.

CJT: O que Timothy Leary sugere?

TL: Descubram quais são e aprendam a mudar os seus memes!


Timothy Leary foi abandonando paulatinamente sua postura de guru das viagens lisérgicas, embora tenha me dito, há dois anos, que ainda tomava LSD todas as semanas, como base de experimentos de ponta, que ele chama de “cutting edge”. Leary atravessou os últimos anos dando orientações para PhDs de universidades londrinas e americanas sobre como estudar história fazendo uso das smart drugs. Com capacete e luvas de velcro e drogas inteligentes na cabeça, você entra na tela do computador e presencia, por exemplo, como era viver nas ruas de Paris na época da Revolução Francesa. Esse é último Leary:

“Você anda preocupado, e muito, sobre o risco da inteligência artificial se tornar mais esperta do que a mente humana, e isso não é possível. Nós estamos desenvolvendo programas que possam converter uma tela de computador num aparelho de telecomunicações. Uma espécie de fone do cérebro, das idéias. A comunicação da televirtualidade é a nova chave. Esse é um novo incentivo para os indivíduos criarem suas próprias realidades na tela, criarem seus próprios memes. Essa é a estrada da libertação psíquica das idéias prontas, das grandes corporações”.

Como operar o seu cérebro

Que tal parar tudo de estafante que você anda fazendo e operar seu cérebro por alguns minutos ou horas?

Um guru da psicologia chamado Timothy Leary fez diversos estudos científicos mostrando que o cérebro humano reage a estímulos visuais, sendo capaz de afetar consequentemente o comportamento.

Neste impressionante vídeo, Timothy Leary nos ensina a controlar nossa mente usando repetições de mensagens básicas, luzes, cores e sons (ritmo). A sua intenção é fazer com que tiremos da nossa mente, programações feitas em toda a nossa vida que nos fazem ter ações "padronizadas" determinadas pela sociedade. A mensagem passada no vídeo tem que ser absorvida como a primeira mensagem que você um dia programou em seu cérebro.