Para Marcelo Neri, da Fundação Getúlio Vargas, Dilma teria sido mais realista se prometesse reduzir a miséria pela metade até fim de governo
28 de março de 2011 | 23h 00
Daniel Bramatti, de O Estado de S. Paulo
Para o economista Marcelo Neri, especialista em políticas públicas de combate à pobreza, a meta de erradicação da miséria é inatingível, mas buscá-la é algo positivo. Segundo ele, a presidente Dilma Rousseff teria sido mais realista se apresentasse como objetivo a redução da miséria pela metade até o fim de seu governo.
A declaração da presidente Dilma de que a erradicação da miséria talvez não se concretiza até 2014 é um sinal de que a meta é ambiciosa demais?
A meta é ambiciosa, sim. Teoricamente, basta existir ainda uma pessoa miserável para perder essa guerra. Seria mais realista se comprometer a reduzir a miséria à metade. Mas também é difícil ser contra a meta da erradicação. Não é possível erradicar a pobreza, mas é viável reduzir muito o peso desse problema. O fim da pobreza é uma espécie de Santo Graal: é inatingível, mas a busca por ele enobrece o espírito da sociedade brasileira.
No final de 2010 o senhor estimou que, se fosse mantido o ritmo de redução da pobreza dos anos anteriores, ainda haveria mais de 10 milhões de miseráveis em 2014. O quanto é preciso acelerar esse ritmo?Nos oito anos do governo Lula a pobreza caiu 50,6%. Desde o lançamento do Plano Real, a queda foi de 67%. Sem nenhum esforço adicional, levando-se em conta apenas os resultados anteriores, seria possível reduzir a taxa de pobreza de 15,3% para 8,6% até 2014. Ainda teríamos 16,1 milhões de pessoas abaixo da linha de pobreza (com renda per capita inferior a R$ 142, segundo os critérios da Fundação Getúlio Vargas). Mas esforços adicionais já têm sido feitos, como o reajuste do Bolsa Família.
Houve reajuste do Bolsa Família, mas o salário mínimo não teve ganho real. O que tem mais impacto?Seguramente o mais importante, como estratégia para combater a miséria, é aumentar o Bolsa Família. O programa atende mais a faixa etária de zero a 15 anos, onde a taxa de pobreza chega a 27,5%, O aumento do salário mínimo beneficia principalmente os mais idosos, faixa em que a pobreza é de 4,4%,
Qual o custo para levar a pobreza a taxas mínimas?Existe um cálculo que estima esse custo em cerca de R$ 22 bilhões por ano, mas, se levarmos em conta as rendas não monetárias dos pobres - o que recebem em doações, o que cultivam em lavouras de subsistência e outros itens não medidos em pesquisas oficiais -, esse custo pode cair para R$ 7 bilhões por ano. É um valor alto, mas não é absurdo.
A declaração da presidente Dilma de que a erradicação da miséria talvez não se concretiza até 2014 é um sinal de que a meta é ambiciosa demais?
A meta é ambiciosa, sim. Teoricamente, basta existir ainda uma pessoa miserável para perder essa guerra. Seria mais realista se comprometer a reduzir a miséria à metade. Mas também é difícil ser contra a meta da erradicação. Não é possível erradicar a pobreza, mas é viável reduzir muito o peso desse problema. O fim da pobreza é uma espécie de Santo Graal: é inatingível, mas a busca por ele enobrece o espírito da sociedade brasileira.
No final de 2010 o senhor estimou que, se fosse mantido o ritmo de redução da pobreza dos anos anteriores, ainda haveria mais de 10 milhões de miseráveis em 2014. O quanto é preciso acelerar esse ritmo?Nos oito anos do governo Lula a pobreza caiu 50,6%. Desde o lançamento do Plano Real, a queda foi de 67%. Sem nenhum esforço adicional, levando-se em conta apenas os resultados anteriores, seria possível reduzir a taxa de pobreza de 15,3% para 8,6% até 2014. Ainda teríamos 16,1 milhões de pessoas abaixo da linha de pobreza (com renda per capita inferior a R$ 142, segundo os critérios da Fundação Getúlio Vargas). Mas esforços adicionais já têm sido feitos, como o reajuste do Bolsa Família.
Houve reajuste do Bolsa Família, mas o salário mínimo não teve ganho real. O que tem mais impacto?Seguramente o mais importante, como estratégia para combater a miséria, é aumentar o Bolsa Família. O programa atende mais a faixa etária de zero a 15 anos, onde a taxa de pobreza chega a 27,5%, O aumento do salário mínimo beneficia principalmente os mais idosos, faixa em que a pobreza é de 4,4%,
Qual o custo para levar a pobreza a taxas mínimas?Existe um cálculo que estima esse custo em cerca de R$ 22 bilhões por ano, mas, se levarmos em conta as rendas não monetárias dos pobres - o que recebem em doações, o que cultivam em lavouras de subsistência e outros itens não medidos em pesquisas oficiais -, esse custo pode cair para R$ 7 bilhões por ano. É um valor alto, mas não é absurdo.