terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Pregão movido a bebidas

Bar em São Paulo simula ambiente de bolsa de valores e 'negocia' cerveja e caipirinha
Bianca Pinto Lima, do Economia & Negócios  

Tópicos: Wall Street Bar, bar, pregão, bebidas


- SÃO PAULO - O modelo de empreendimento já é bem conhecido no exterior, mas chega com ar de novidade à capital paulista. Inspirado no espanhol La Bolsa, o Wall Street Bar vem atraindo clientes desde a inauguração, em dezembro de 2009, com pregões de bebidas alcoólicas. Os preços oscilam de acordo com a demanda, sem limite de valor máximo ou mínimo. O dinamismo da negociação entusiasma os clientes, que se comportam como investidores e buscam sempre a melhor compra. Mas a novidade é motivo de alegria principalmente para os sócios, que têm conseguindo manter a casa cheia e começam a idealizar até um mercado futuro para as bebidas.

"O segredo do negócio é o cálculo que criamos para a oscilação de preços", explica o administrador de empresas Fabio Strano, 30 anos, um dos proprietários da casa. A fórmula inclui diversas variáveis e não permite grandes flutuações - por isso não é necessário estabelecer limite de valores. Após o cálculo pronto, os sócios entregaram à empresa Vipware a tarefa de criar um software que automatizasse as operações. O programa trabalha em categorias, isto é, os preços das cervejas oscilam entre si e o mesmo ocorre com as caipirinhas - hoje as únicas bebidas que participam do pregão. Quanto maior a demanda, maior o valor produto e vice-versa.


A ideia do negócio surgiu durante uma conversa de bar com alguns amigos recém-chegados de Barcelona. Quatro deles decidiram levar o projeto adiante e desembolsaram mais de R$ 1,5 milhão para concretizar o plano. Apesar das referências ao mundo econômico, nenhum dos proprietários tem experiência no mercado financeiro e investem apenas de "brincadeira". O empresário Thiago Armentano e o chef de cozinha Cristian Montgomery, no entanto, já conhecem de perto a noite paulistana. Eles também são sócios do Seu Justino e do B4 Lounge, ambos na cidade de São Paulo. O publicitário Thomaz Rothmann completa a lista de jovens sócios - todos na faixa dos 30 anos.

A oscilação de preços das bebidas pode ser acompanhada pelos clientes por meio de painéis de LED espalhados pela casa. Foto: Divulgação 
Durante os "pregões", a oscilação dos preços pode ser acompanhada pelos clientes por meio de painéis de LED espalhados pela casa. Atualmente, as variações ocorrem a cada três minutos e são ilustradas por setas verdes e vermelhas, que indicam se as bebidas estão em alta ou baixa. Para realizar a compra, não é preciso nem esperar o garçom. Os clientes escolhem o produto e realizam a transação em telas touchscreen, instaladas nas mesas. A cada pedido, o sistema emite uma espécie de recibo do negócio, para evitar confusões na hora de pagar a conta.

"A Antártica, que tem o preço-base (valor antes de começar o pregão) de R$ 6,10, já chegou a ser vendida por R$ 3", conta Strano. Em outra noite, o bar ficou praticamente sem estoque de uma das bebidas. "A original e a Bohemia estavam cotadas entre R$ 7 e R$ 8, enquanto a Serramalte estava saindo por R$ 4,50. Os clientes perceberam, começaram a falar com as outras mesas e conseguiram derrubar o preço das outras cervejas ao elevar a demanda pela Serramalte", relata o sócio.

Diferentemente de uma bolsa de valores tradicional, o crash é aqui um dos pontos altos da noite. Quando ocorre, os preços das bebidas retornam ao seu patamar inicial, zerando todas as oscilações anteriores. O evento é anunciado pelos painéis de LED e pode ocorrer uma ou mais vezes durante a noitada, sempre que a casa atingir a meta de faturamento para o dia. "Se na segunda-feira a meta é R$ 3 mil e o bar bate R$ 9 mil, o crash ocorre três vezes", explica Strano, destacando que o mecanismo estimula os clientes a frequentarem o bar nos dias de movimento teoricamente mais fraco, como no início da semana.

O público da casa varia entre executivos em busca de um happy hour diferente, muitos deles do mercado financeiro, e jovens bem arrumados que curtem os lugares da moda. Para começar a consumir no Wall Street Bar é preciso desembolsar pelo menos R$ 6,10 em uma cerveja Brahma, Antártica ou Skol - as bebidas alcoólicas com preço-base mais acessível. No outro extremo, figura a dose do uísque Blue Label, que sai por R$ 75. Uma réplica da famosa estátua de um touro, símbolo do centro financeiro de Nova York, completa a decoração do bar, que é toda inspirada na cidade norte-americana.

"A ideia é interessante, pois permite interação com o local", comentam os advogados Maurício Bueno e Guilherme Ablas, que trabalham próximos ao bairro do Itaim e visitavam a casa pela primeira vez. "Além do prazer de estar no bar, tem a brincadeira da oscilação. Este é o atrativo", resume o desenvolvedor de software Cláudio Meinberg, que já se tornou cliente assíduo do local.

Para o futuro, os sócios pretendem ampliar ainda mais o conceito de interatividade. "Podemos liberar a internet no touchscreen, criar um chat entre as mesas ou passar os jogos da Copa do Mundo", enumera Rothmann. Do lado financeiro, os sócios já pensam em criar um mercado futuro de bebidas. "O cliente poderia, por exemplo, comprar um lote de dez cervejas para consumir mais tarde ou em outro dia com um preço predeterminado", explica o sócio, ressaltando que boa parte das ideias vem dos próprios clientes, e que sugestões são sempre bem-vindas.

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