Um belo material do The New York Times, publicado na Folha, sobre o papel dos físicos na avaliação de riscos do mercado financeiro que recebi por e-mail de um amigo físico.
Escrito por Dennis Overbye, o artigo “A alquimia dos mercados” tenta elucidar o limite de funcionamento das estratégias quantitativas, até que ponto a crença na métrica de risco foi responsável pela crise ?
Emanuel Derman esperava sentir uma certa fossa quando deixou a física de partículas por um emprego em Wall Street em 1985. Afinal, por quase 20 anos, como estudante na Universidade Columbia em Nova York e bolsista de doutorado em instituições como Oxford e a Universidade do Colorado, ele havia convi-vido com prêmios Nobel. Como administrar dinheiro poderia se comparar com isso?
Mas a fossa não aconteceu. Pelo contrário, ele se apaixonou por uma área das finanças que lida com opções de ações.
“A teoria das opções tem uma certa profundidade. Era muito elegante; tinha a qualidade da física”, explicou recentemente Derman com um pouco de melancolia, sentado em seu escritório em Columbia, onde hoje é professor de finanças e consultor de gestão de riscos na Prisma Capital Partners.
Derman, que passou 17 anos na Goldman Sachs e chegou a diretor-gerente, foi precursor de muitos físicos e outros cientistas que inundaram Wall Street. Eles são conhecidos como “quants”, porque fazem finanças quantitativas. Usam técnicas com as quais esperavam solucionar os mistérios do universo para ganhar dinheiro.
Essa enxurrada parece continuar, apesar do colapso econômico mundial. Alguns quants analisam o mercado de ações. Outros produzem os modelos de computador que analisam os riscos e lucros quase incomensuráveis de negócios complexos ou dirigem seus próprios fundos hedge e percorrem vastos universos de dados em busca de disparidades mínimas que possam lhes dar uma vantagem.
Mas mesmo os quants tendem a concordar que o que fazem não é exatamente ciência.
Como diz Derman em seu livro “My Life as a Quant: Reflections on Physics and Finance” [Minha vida como um quant: Reflexões sobre física e finanças], “na física poderá haver um dia uma Teoria do Tudo; nas finanças e nas ciências sociais, você terá sorte se houver uma teoria útil de qualquer coisa”.
Os físicos começaram a deixar a academia atrás dos empregos em Wall Street no final dos anos 1970. Chegaram no meio de uma revolução financeira. Entre outras coisas, o aumento da inflação havia tornado as finanças mais complexas e arriscadas, e era necessário ter uma perícia matemática cada vez mais sofisticada para entender até investimentos simples como títulos. Chegam os quants.
Mas foi nas opções de ações que essa revolução teve seu maior e mais famoso sucesso. Na década de 1970 o já morto Fischer Black, do Goldman Sachs, Myron S. Scholes, da Universidade Stanford, e Robert C. Merton, de Harvard, haviam descoberto como avaliar e proteger essas opções de uma maneira que parecia garantir os lucros. O chamado modelo Black-Scholes foi o padrão de ouro dos quants desde então.
Merton e Scholes ganharam o prêmio Nobel de ciência econômica em 1997 pelo modelo de opções de ações. Apenas um ano depois, o Long Term Capital Management, fundo hedge altamente vantajoso cuja diretoria incluía os dois laureados pelo Nobel, desmoronou e teve de ser socorrido em US$ 3,65 bilhões por um grupo de bancos.
Depois, um memorando do banco Merrill Lynch notou que os modelos financeiros “podem dar uma sensação de segurança maior do que se garante; portanto, a confiança nesses modelos deve ser limitada”.
Foi uma lição que aparentemente ninguém aprendeu.
Diante da situação mundial atual, é justo perguntar se os quants têm alguma ideia do que estão fazendo.
Lee Smolin, físico do Instituto Perimeter de Física Teórica em Waterloo, Ontário (Canadá), disse: “O que me surpreende ao saber disso é como são tênues as bases teóricas das alegações de que os derivativos e outros instrumentos financeiros complexos reduziriam os riscos, quando na verdade sua utilização trouxe instabilidades”. Um dos críticos mais veementes é Nassim Nicholas Taleb, ex-corretor e hoje professor na Universidade de Nova York.
Ele teve uma recepção adulatória no recente Fórum Econômico Mundial em Davos (Suíça). Em seu livro campeão de vendas “The Black Swan” [O cisne negro], Taleb afirma que as finanças e a história são dominadas por eventos raros e imprevisíveis.
“Qualquer corretor lhe dirá que todo gerente de risco é uma fraude”, ele disse, e os corretores de opções costumavam se dar bem antes de Black-Scholes.
“Acho que os físicos deveriam voltar para o departamento de física e deixar Wall Street em paz”, ele disse. Segundo Derman, os modelos podem ser uma orientação útil desde que você não os confunda com ciência real. Mas algumas pessoas levam os modelos demasiadamente a sério? “Não as pessoas inteligentes”, disse Derman.
Extraído do Blog Trading Quantitativo
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